segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sargento Regina deixa o "rabo de palha"

Ética, moral e honestidade. As palavras que a vereadora de Natal e candidata a uma vaga na Assembléia Legislativa Sargento Regina (PDT) mais defendia foram jogadas ao vento na última sexta-feira (3), ao ser deflagrado o episódio semelhante ao "Rabo de Palha", escândalo protagonizado pelo senador José Agripino (DEM) em 1985, quando ele foi pego em gravação de áudio supostamente ensinando seus aliados a conseguir os votos dos pobres oferecendo "feirinhas e enxovais".

Passados exatos 25 anos do Rabo de Palha, um novo escândalo envolvendo a conversa de um político com aliados chega ao conhecimento da população. Dessa vez, os recursos tecnológicos proporcionaram mais nitidez no material gravado, que teve áudio e vídeo. A popularidade da internet também ajudou para que os vídeos da vereadora fossem espalhados rapidamente.

A pedetista confessa, nos vídeos, ter recebido dinheiro em "acordos" com o presidente da Câmara, Dickson Nasser (PSB); diz aos aliados da polícia que precisa de R$ 700 mil para se eleger deputada, comprando lideranças; faz acusações contra o vereador Raniere Barbosa (PRB); afirma que José Agripino foi um péssimo governador e que só se aliará a ele por causa do dinheiro que o democrata teria prometido para ajudá-la na campanha; e revela a existência de vários esquemas de corrupção na política potiguar.

O conteúdo foi gravado no período de pré-campanha. Nas imagens, aparece a vereadora conversando com aliados políticos que parecem ser policiais. No primeiro trecho, ela compartilha com os aliados a necessidade de comprar lideranças para se eleger. "Para partir pra uma campanha de deputado estadual tem que ter dinheiro. Quem vai trabalhar de graça para Sargento Regina? Ninguém. O mínimo que vão dizer é que esse dinheiro é para a estrutura. Com as lideranças no interior, um quer R$ 1 mil, outro quer R$ 1,5 mil. O que pede menos quer R$ 500. É de R$ 20 mil a R$ 25 mil por mês, só com o pessoal do interior", previu.

A vereadora comenta o motivo que tem para apoiar a candidatura de Agripino à reeleição. "José Agripino foi um péssimo governador para a categoria. Mas qual foi bom? Tem massacre maior para a categoria do que o que Wilma fez desde 2003? José Agripino é um (xingamento). Defendo é o dinheiro e o espaço dele. Infelizmente, é isso", diz. Ela enfatiza que precisa "negociar" para vencer. "Para essa campanha de 2010, temos 5.498 votos para negociar. Na política só se conhece uma linguagem: é chegar e negociar", ensina.

Regina também questiona da falta de apoio no PDT e admite ter recebido dinheiro ilegal do deputado estadual Álvaro Dias (PDT) nas eleições de 2008. A brizolista afirma categoricamente que vai cobrar pelo seu apoio a um candidato a deputado federal adiantado. "Eu saindo só, tem que negociar com um federal. Não pode ser como Álvaro Dias, que disse que iria bancar 50% da campanha (de 2008) e não deu nada. Tem que pagar adiantado. Álvaro Dias não ajudou nada. Pagou R$ 2 mil na véspera da minha campanha de vereadora, pediu para pegar o dinheiro numa gráfica. É vergonhoso", reclama.

A parlamentar ainda admite que recebeu dinheiro de Dickson Nasser com objetivo pessoal. "Fiz uma negociação financeira pessoal com Dickson para mim, porque eu tenho minhas necessidades. Não tem nada a ver com o gabinete. Foi de R$ 10 mil. Mas, desse valor, R$ 3 mil vai para o imposto de renda. Com esse dinheiro eu não consegui fazer nada. Queria comprar meu apartamento, mas não consegui, não pude pagar minhas contas", declara.

Vereadora de primeira legislatura, Sargento Regina também conta que existem cargos indicados por ela que não recebem o valor real que a Câmara libera para seus serviços. "Boni me ajuda muito. O que ele recebe é R$ 1.350 e ocupa um cargo técnico que a gente tinha dado, mas ele é nomeado num cargo de R$ 4 mil. Ele não fica com o dinheiro. Silvia, por exemplo, é para receber R$ 2.500, mas também não fica. Repassa tudo para Gilvan [chefe de gabinete de Regina]. Quando os cargos vieram para cá, já foi tudo definido", diz ela.

Para finalizar, a vereadora comenta o potencial de votos para as eleições deste ano dos seus colegas de oposição na Câmara. "George Câmara, por exemplo, tem 30 indicações no governo do estado. Tem o Sindicato dos Petroleiros, ou seja, tem dinheiro do sindicato. Ele não é nenhum coitado. Já Raniere [Barbosa - vereador pelo PRB] é milionário. Foi secretário de Carlos Eduardo e sempre declara que deve tudo a ele, politicamente", comenta.

Até o momento, Mary Regina se recusa a comentar o conteúdo das gravações. A vereadora se limitou a divulgar que vai pedir investigação policial sobre os vídeos. Ela é presidente municipal do PDT. O presidente estadual da legenda, Carlos Eduardo Alves, que é candidato ao governo, ainda não se posicionou sobre o assunto.

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